“É uma alegria voltar para a cidade que amo e dediquei mais da metade da vida na parte social”, afirma Irmã Lourdes em primeira visita a Santa Maria em oito meses

Eduarda Paz

“É uma alegria voltar para a cidade que amo e dediquei mais da metade da vida na parte social”, afirma Irmã Lourdes em primeira visita a Santa Maria em oito meses
Fotos: Nathália Schneider (Diário). Irmã Lourdes abraça a artesã Rosângela Vargas

Abraços apertados, conversas, sorrisos e registros fotográficos marcaram a passagem da Irmã Lourdes Dill pelo Feirão Colonial, neste sábado (07). Desde a ida para Barra do Corda, no Maranhão, em 2 de maio de 2022, é a primeira vez que a Irmã retorna para Santa Maria, para reencontrar amigos e colegas de lutas sociais. Antes da partida, em 7 de fevereiro, de volta para o Maranhão, ela vai estar presente no dia 4 de fevereiro, em mais uma edição do Feirão.   

Coração bateu forte

Conforme Irmã Lourdes Dill, ela passou mais da metade da vida dedicando-se em projetos na cidade de Santa Maria. Aos 71 anos, mais de três décadas foram em solo santa-mariense. O projeto Esperança/Cooesperança, da Arquidiocese de Santa Maria, que tem apoio da prefeitura, do Instituto Federal Farroupilha (IFFar) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), comemorou 35 anos de criação no ano passado, e foi idealizado por Dom Ivo Lorscheiter, com a participação da Irmã desde o início.

A cidade é reconhecida pela economia solidária, marcada pelas iniciativas do projeto. O Feirão Colonial, evento semanal, é parte dessas ações. Foi criado em 1º de abril de 1992, com o foco na comercialização de produtos da agricultura familiar e de pequenos artesãos. Por isso, nada mais justo que reencontrar pessoas queridas em uma das iniciativas que ajudou a construir.

– Quando estava chegando em Santa Maria de ônibus, meu coração começou a bater mais forte. Com essa transição para o Maranhão, comecei a compreender mais a importância da amizade e o cultivo da saudade. É uma alegria voltar para a cidade que a gente ama e dediquei mais da metade da minha vida na parte social – conta a líder do movimento social. 

Primeira Feicoop sem a presença emblemática

A 28ª Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop) de 2022, foi a primeira sem a presença emblemática Irmã Lourdes. A feira é organizada pelo projeto Esperança/Cooesperança, e na edição de julho cerca de 140 mil pessoas circularam pelo Centro de Referência em Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter e conferiram o trabalho de 500 expositores.

Realizada há quase 30 anos, a feira costuma atrair caravanas de outros Estados e países da América Latina. Segundo a religiosa, o sentimento de não participar foi de muita sensibilidade:

– Depois de 27 anos no evento, chegou a dar uma cócega no coraçãozinho. Mas foi muito lindo, acompanhei de longe quase todos os dias, assisti discursos e acompanhei oficinas. Foi gigantes. Achei que eu não deveria vir para a Feira ano passado, ainda não sei informar se conseguirei vir este ano, porque não depende só de mim – relata a Irmã. 

Trabalho social no Maranhão

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 1,5 milhão de maranhenses lutam diariamente para ter, pelo menos, o que comer. Conforme a religiosa, ela começou a realizar um trabalho de economia solidária com 50 catadores, do município de Barra do Corda. 

– É um lixão a céu aberto, consegui reunir um grupo de técnicos, que ainda não são da prefeitura. Mas, aos poucos, vamos conseguir realizar políticas públicas dos resíduos sólidos na cidade. 

Ela comenta que desde que começou o projeto social com os catadores, conseguiu organizar grupos para distribuir tarefas:

O primeiro separa os materiais, que chegam dos caminhões todos misturados;

O segundo, faz a seleção dos resíduos, por exemplo, separação de garrafas pets pelas cores;

O último, faz a triagem deste material, a Irmã Lourdes afirma que já conseguiram em conjunto, uma prensa e um gapão para realizar essa parte do processo.

Além desse trabalho, ela atua nas pastorais sociais, visita famílias, idosos e pessoas doentes. E desde que está no Maranhão, já participou de vários seminários, em São Luiz, na capital do Estado, em Salvador, na Bahia e em Manaus, no Amazonas:

– Também participei de um encontro grande em Brasília, no Distrito Federal, onde reuniram todos os fóruns de economia solidária do Brasil e pode-se dizer que estou ligada na economia solidária, de forma mais ampla agora, a nível de país – explica a líder. 

Reencontro emocionantes

Ana Cláudia Giacomini, (a partir da esq.); Irmã Lourdes e a artesã Rosângela VargasFeirante Robson Alexandre Giacomini (a partir da esq.); junto com a Irmã Lourdes e a esposa Ana Cláudia Giacomini

Amigos e companheiros de luta reencontraram-se com a Irmã depois de quase um ano da mudança para o Maranhão. O feirante Robson Alexandre Giacomino, 47 anos, é participante da feira há 23 anos. Ele conheceu a religiosa em uma reunião no Banco da Esperança:

– Nunca vou esquecer do encontro, levei alguns produtos meus e ela elogiou. É muito bom encontrar a irmã, porque ela é referência para nós, no sentido de luta. Batalhou pelo projeto, pelas pessoas que precisam, e ela sempre foi guerreira em todos os obstáculos que enfrentamos. Aqui é a casa dela.

Os integrantes do Feirão Otalice Souza Martins e Enio Batista Martins, ambos com 77 anos, participam há 24 anos da feira. Otalice com sorriso no rosto conta que considera a irmã como mãe:

– Eu chorei muito quando ela foi embora. Hoje, quando consegui abraçar ela, chorei muito. Ela deveria ter ficado aqui, considero uma segunda mãe. Sempre esteve do nosso lado, nos apoiando aqui no projeto.

A artesã Rosângela Vargas, 64 anos, foi uma das pessoas que não aguentava a espera para ver a líder:

– Conheço a irmã há mais de 20 anos. Ela faz muito bem para nós, os povos indígenas. Hoje, me emocionei ao revê-lá, minhas lágrimas foram de felicidades. E ela não deve ser afastada daquilo que construiu, para os povos indígenas, para os catadores, para as pessoas em vulnerabilidade social, ela sempre nos apoiou.  

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